Leilão da internet de quinta geração deve ocorrer até julho, segundo Leonardo de Morais. Regras estão em análise no Tribunal de Contas da União.

Presidente da Anatel promete 5G nas capitais e no Distrito Federal em 2022
Foto: Reprodução/Apple

O presidente da Anatel, Leonardo de Morais, disse que a internet 5G estará disponível nas capitais e no Distrito Federal dentro do prazo de um ano – já em 2022. Ele repetiu um dos pontos fundamentais do projeto de instalação desta tecnologia. Morais falou ao vivo à minha coluna na CBN. Foi a primeira entrevista dele desde a reunião que sacramentou o caminho da internet de quinta geração no Brasil, na última quinta-feira (25).

Confira abaixo os principais trechos da conversa exclusiva que teve a participação da apresentadora Cássia Godoy. O conteúdo foi editado para fins de clareza e brevidade, e conta com observações deste colunista nesta cor. O áudio na íntegra está disponível no site da CBN e no Spotify.

Emmanoel Campelo e Leonardo de Morais em evento para discutir 5G — Foto: Divulgação/Anatel
Emmanoel Campelo e Leonardo de Morais em evento para discutir 5G — Foto: Divulgação/Anatel

Cássia Godoy – É possível dizer que a gente vai ter nas capitais brasileiras 5G funcionando já em 2022 ?

Leonardo de Morais – Exatamente. Essa é justamente a ideia. O Conselho Diretor aprovou o calendário. O processo agora segue para a etapa subsequente, que é aquela de avaliação e precificação do direito de uso da radiofrequência no Tribunal de Contas da União (TCU). O calendário estimado é que em junho de 2022 já esteja implementado do 5G nas capitais e no Distrito Federal.

O TCU se comprometeu a fazer uma análise veloz. A expectativa é de que se pronuncie sobre o tema em 90 dias. A Anatel acredita que o leilão terá preço total entre R$ 33 e R$ 35 bilhões, incluindo aí os gastos para cumprir as contrapartidas. A quantia impressionou o mercado, que esperava menos. O banco Credit Suisse divulgou relatório nesta segunda (1°) em que diz que as ações de empresas do setor podem cair caso vá para frente a ideia de um leilão com valores tão altos.

Thássius Veloso – Sempre que falo de 5G muita gente comenta “poxa, nem o 4G funciona direito”. O senhor tem essa percepção? O 5G vem pra resolver esse problema?

Se o 4G mudou a vida das pessoas, o 5G vem pra mudar a sociedade e a força produtiva. Não é apenas um aumento de velocidade como ocorreu na transição da terceira para a quarta geração. O 5G tem outras facetas e se relaciona com a internet das coisas – com uso no agro business e em aplicações sensíveis a atraso. É um catalisador da inovação e de novas tecnologias, como inteligência artificial, robótica e realidade aumentada.

A faixa de entrada, de 3,5 GHz, não é tão boa em termas de propagação. Por isso precisaremos de mais antenas, com legislações municipais menos restritivos. Elas acabam inviabilizando as antenas e prejudicando esta percepção de qualidade e cobertura.

Vale lembrar que o Supremo Tribunal Federal derrubou em dezembro uma lei municipal de São Paulo que atrapalhava a instalação de mais antenas. Esta é uma queixa antiga das empresas do setor. Segundo o Supremo, é competência da União estabelecer critérios para a liberação das antenas e torres.

Cássia Godoy – Explica melhor esse modelo. É isso que faz com que pequenas provedores tenham mais dificuldades para participar e fornecer 5G do interior ?

Os provedores de pequeno porte (PPPs) fornecem banda larga fixa. Esses empresários têm feito uma verdadeira revolução no interior do país, levando conectividade e chegando com bom atendimento com fibra ótica, com qualidade muito interessante. Os provedores estão pleiteando ter acesso ao espectro radioelétrico, objeto de solicitação. Nós vamos licitar o direito de uso do espectro radioelétrico, que é um bem público. Eles também querem ter a oportunidade ao 5G para que os pequenos empresários forneçam internet móvel ou banda larga fixa.

O presidente da agência tem razão quando menciona os provedores pequenos. Geralmente eles ficam fora das capitais, onde as grandes empresas do setor não têm tanta capacidade ou interesse de prestar o serviço. Pequeninas cidades já foram totalmente fibradas – ou seja, receberam infraestrutura de fibra ótica – enquanto bairros de São Paulo e Rio, apenas para citar as maiores regiões do país, vivem um apagão de telecomunicações, com estruturas muito atrasadas.

Thássius Veloso – Muitos ouvintes acompanham a CBN no rádio do carro e ficam sem sinal na estrada, perdem o acesso á internet. Qual é o benefício previsto no leilão ?

Vou explicar o que compõe esse certame, que será maior licitação de direito do uso radiofrequência da história da agência. Ele compreende quatro objetos distintos, por assim dizer. Um é 10 + 10 MHz na faixa de 700 MHz, depois 90 MHz na faixa de 2,3GHz. Essas duas faixas são para 4G e um dia vão evoluir para 5G. Depois temos a faixa de 3,6 GHz que, como disse, é a principal porta de entrada do 5G, e por fim, as bandas milétricas de 26 GHz, comparável ao que se entrega hoje à fibra, com 300 a 400 Mb/s de forma sem fio.

As obrigações associadas à cobertura de estradas estão na faixa de 700 MHz. Por ser uma faixa mais baixa, as condições de propagação são melhores e o sinal viaja por uma extensão territorial maior. Nós vamos olhar especificamente para algumas rodovias, entre elas a BR-163, BR-364, BR-242, BR-135, BR-101 e BR-116. São importantes vias para o escoamento da produção brasileira e muitas vezes não contam com cobertura adequada de sinal. É uma reclamação constante de uma classe importante no Brasil, que são os caminhoneiros. A gente vai dar um incremento substancial de qualidade de prestação e de oferta de serviços no Brasil.

O reforço da internet 4G nas estradas, ainda que associado ao projeto de 5G, é benéfico para o setor agro, um dos mais importantes em termos de participação do Produto Interno Bruto (PIB). Rodovias efetivamente conectadas permitem comunicação melhor entre pessoas e até mesmo entre máquinas. Hoje em dia ocorrem conversas muito embrionárias sobre veículos autônomos, mas esta é uma discussão que merece frequentar a cúpula do setor de telecomunicações.

Entenda o leilão

O Conselho Diretor da Anatel deu aval para que o leilão do 5G ocorra ainda no primeiro semestre. Em reunião virtual realizada na tarde da última quinta (25), a agência reguladora estabeleceu que o certame deve acontecer até julho.

Conselho Diretor da Anatel aprovou termos do leilão de 5G após reunião virtual — Foto: Reprodução/Anatel
Conselho Diretor da Anatel aprovou termos do leilão de 5G após reunião virtual – Foto: Reprodução/Anatel

Operadoras de telefonia poderão fazer ofertas pelos espectros de 700 MHz, 2,3 GHz, 3,5 GHz e 26 GHz. Foi a segunda reunião sobre o tema. No primeiro encontro, realizado em 1° de fevereiro, o conselheiro responsável pela relatoria do processo, Carlos Baigorri, declarou que a rede de quinta geração “não é uma opção”, mas um dos alicerces da sociedade moderna.

A decisão foi tomada após o Ministério das Comunicações editar portaria com as condições e contrapartidas para o projeto de internet de quinta geração. O documento foi publico em edição extra do Diário Oficial em 29/01 e não restringe e participação da Huawei.

Fonte: TechTudo

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